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PLAYING WITH LYZ PARAYZO

19 MAIO -  1 JULHO,  2023

Galeria SARAHCROWN, Nova York, Estados Unidos. 
 

PLAYING WITH LYZ PARAYZO

Por Luise Malmacena 

 

Jogando com Lyz Parayzo 

 

1. Jogar; uma estratégia ou um plano de ação; 

 

2. Jogar contra; competir contra alguém ou algo; 

 

3. Jogar como; fingir ser alguém ou um tipo de pessoa; 

 

4. Jogar junto; simular cooperação; 

 

 

 

Os vários sentidos do termo jogar, como o ato de participar de um jogo, fornecem um ponto de entrada para o trabalho, a pesquisa e o ativismo político da artista multidisciplinar Lyz Parayzo. Desde 2015, ela se baseia tanto em seu corpo dissidente quanto na história da arte latino-americana para enquadrar a dinâmica de poder e a exclusão histórica do mundo da arte, que ela navega por meio do jogo.  

 

Nascida em uma comunidade de classe trabalhadora no Rio de Janeiro, Parayzo iniciou formalmente sua prática artística enquanto estudava e trabalhava como educadora na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, uma experiência que lhe proporcionou um relato em primeira mão dos motores do sistema artístico. Quando decidiu entrar no mundo da arte, adotou o nome de guerra Lyz Parayzo, derivado da palavra portuguesa para paraíso. Com esse novo nome de guerra, ela entrou no mundo da arte como se estivesse pronta para a guerra. 

Inspirada por um livro que leu sobre as táticas de guerrilha propostas por artistas brasileiros para romper a censura imposta pela ditadura militar da década de 1970, Parayzo iniciou sua prática com ações de confronto que interferiam em exposições e mobilizavam o público por meio do choque. Depois de um período em que lutou contra as políticas de exclusão do mundo da arte, participando não oficialmente de uma série de exposições por meio de performances, ações disruptivas e distribuição de panfletos e fanzines, ela percebeu que, para prosperar no sistema artístico, seria necessário aprender a jogar junto com ele. 

A história da arte brasileira não apenas inspirou os primeiros trabalhos de Parayzo, mas continuou a ser um local de tensão. Seu objetivo era produzir na interseção entre a criação de uma prática de referencialidade e a descoberta de maneiras de ultrapassá-la. Ao situar sua produção escultórica em diálogo com o Concreto, o Neoconcreto e a Arte Cinética dos anos 1960, tendências consideradas os pilares da arte latino-americana internacional, ela engenhosamente implantou uma estratégia de cavalo de Troia para invadir o sistema. Por um lado, suas manobras proporcionaram a gramática adequada para que sua presença fosse aceita em renomadas escolas de arte, como a École Nationale Supérieure des Beaux-Arts de Paris. Por outro lado, a presença de seu trabalho e de sua individualidade no mundo da arte brasileira rompeu os desequilíbrios de poder predominantes, oferecendo um campo de testes para seus mitos e totens artísticos.  

 

Brincando com e contra o desejo de participação que permeou a arte neoconcreta brasileira, Parayzo aguça a série canônica Bichos, de Lygia Clark, renomeando-a com uma variação da palavra depreciativa Bixinhas. Mantendo a lógica de corte e dobra do objeto, bem como sua materialidade, ela acrescenta uma camada pertinente às questões contemporâneas enfrentadas pela comunidade LGBTQI+. Ao afiar os objetos, ela relembra as lâminas de barbear de metal que as travestis brasileiras (termo usado e reivindicado por mulheres trans), especialmente as profissionais do sexo, costumam carregar escondidas na gengiva para autodefesa. A transformação do bicho (sinônimo de animal) em uma bixinha cortante denuncia as complexidades da vida de subjetividades dissidentes no Brasil, um país que está entre os mais violentos do mundo contra pessoas trans e queer.

Criada em 2018 e agora sua série mais notória, Bixinhas rapidamente se desdobrou em uma série de joias de guerra, escudos e armamentos que funcionam como extensões performáticas do corpo. Essa virada escultural fez com que Parayzo fosse além da imagem codificada de seu próprio corpo sem recusar sua experiência corpórea. Ela escapa da representação, mas traz à tona as experiências simbólicas de um corpo sujeito à brutalidade civil e estatal e que exige mecanismos de defesa - um corpo que é tanto um local de desejo quanto de medo. 

 

Proposto como um convite irônico, Playing with Lyz Parayzo destaca as dimensões libidinais e enganosas que seu trabalho negocia constantemente, seja por meio da performance, da escultura, da joalheria ou do audiovisual. Em sua primeira exposição individual na cidade de Nova York, destacamos suas séries mais recentes, como os móbiles pontiagudos que prestam uma homenagem maliciosa ao GRAV (Groupe de Recherche d'Art Visuel), coletivo latino-americano dos anos 1960. A natureza beligerante dos móbiles, que colocam os visitantes em constante estado de alerta, também está presente na série Bixinhas e nos mais recentes Joujous, pequenos objetos semelhantes a celulares projetados a partir de seus brinquedos sexuais mostrados pela primeira vez nesta exposição.

 

 

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