Lyz Parayzo é uma mulher transexual que atualmente vive entre Paris e São Paulo.

 

"Os diversos sentidos do termo "jogar", como o ato de participar de um jogo, fornecem um ponto de entrada para o trabalho, pesquisa e ativismo político da artista multidisciplinar Lyz Parayzo. Desde 2015, ela tem se baseado tanto em seu corpo dissidente quanto na história da arte latino-americana para enquadrar as dinâmicas de poder do mundo da arte e a exclusão histórica, que ela navega por meio do jogo.

 

Nascida em uma comunidade de classe trabalhadora no Rio de Janeiro, Parayzo iniciou formalmente sua prática artística enquanto estudava e trabalhava como educadora na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, uma experiência que proporcionou um relato em primeira mão dos mecanismos do sistema de arte. Quando decidiu entrar no mundo da arte, adotou o pseudônimo Lyz Parayzo, derivado da palavra em português para paraíso. Com esse novo pseudônimo, ela ingressou no mundo da arte como se estivesse pronta para a guerra.

 

Inspirada por um livro que leu sobre as táticas de guerrilha propostas por artistas brasileiros para romper com a censura imposta pela ditadura militar dos anos 1970, Parayzo iniciou sua prática com ações de confrontação que interferiram em exposições e mobilizaram o público através do choque. Após um período de confronto com as políticas excludentes do mundo da arte, participando não oficialmente de uma série de exposições através de performances, ações disruptivas e distribuição de panfletos e fanzines, ela percebeu que prosperar no sistema de arte exigiria aprender a jogar junto com ele.

 

A história da arte brasileira não apenas inspirou as primeiras obras de Parayzo, mas continuou sendo um local de tensão. Ela visava produzir na interseção entre criar uma prática de referencialidade e encontrar maneiras de superá-la. Ao situar sua produção escultural em diálogo com as tendências da Arte Concreta, Neoconcreta e Cinética dos anos 1960, consideradas os pilares da arte latino-americana internacional, ela implantou de forma engenhosa uma estratégia do cavalo de Troia para hackear o sistema. Por um lado, sua manobra forneceu a gramática adequada para que sua presença fosse aceita em renomadas escolas de arte, como a École Nationale Supérieure des Beaux-Arts de Paris. Por outro lado, a presença de seu trabalho e identidade no mundo da arte brasileira perturbou os desequilíbrios de poder predominantes, oferecendo um campo de testes para seus mitos artísticos e totens."

 

Texto de Luise Malmaceda para a exposição solo de Lyz Parayzo "Playing with Lyz Parayzo", 2023 - NY - EUA.